05/02/2005 Texte

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Elections en Arabie saoudite

Eleições na Arábia Saudita são resultado da pressão internacional

VÃO TER finalmente lugar eleições municipais parciais no país da cidade de Meca, no dia 10 de Fevereiro. O acontecimento está longe de constituir uma revolução no século XXI.

Na verdade, o Hedjaz, que ocupa o Oeste da Arábia, já tinha conhecido sob o Império Otomano uma vida política, eleições e sindicatos embrionários. A invasão wahhabita de 1924 e a anexação do Hedjaz ao reino de Saud pôs-lhe fim.

Estas duas dinastias fundadoras da Arábia comprazem-se a exercer um poder absoluto. Aos Saud cabe a gestão dos recursos petrolíferos e aos wahhabitas a tarefa de controlar e organizar a sociedade. A dupla espalhou a sua doutrina belicosa e intolerante por todo o mundo, graças aos petrodólares acumulados após o choque petrolífero de 1973.

Instalados no seu conforto, não querem ouvir falar de partidos, sindicatos ou sociedade civil. Foi preciso a invasão do Koweit por Saddam Hussein, em 1990, e a campanha militar visando a sua expulsão para impor ao rei Fahd a introdução de uma dose insignificante de partilha do poder. Sob pressão americana, Riade teve de criar um Majliss Chura, um Conselho puramente consultivo, cujos membros eram nomeados por decreto e que não tinha nenhuma mulher. Estava presente um único xiita.

O Majliss nunca se fez notar por tomar posições incómodas. Como se não servisse para outra coisa senão para desempenhar o papel de montra de uma democracia que se prepara para dar os primeiros passos. Depois de uma dúzia de anos de existência, o Majliss não se distinguiu uma única vez.

Os atentados do 11 Setembro de 2001 (perpetrados por 15 kamikazes sauditas em 19), seguidos pela campanha do Iraque e, depois, pelo lançamento do projecto do «Grande Médio Oriente», levaram a Arábia Saudita a dar um passo suplementar, mas muito tímido, para a emergência de uma sociedade civil.

Os 178 concelhos municipais serão constituídos por metade de membros eleitos. A outra metade será nomeada pelo Governo. As mulheres não podem ser candidatas nem eleitoras.

Porém, no momento em que a monarquia fez esta minúscula concessão, reforçou a sua repressão não apenas contra os terroristas da Al-Qaeda mas sobretudo contra os seus aliados naturais neste combate, os liberais. Estes últimos cometeram o «crime» de reclamar reformas: a instauração de uma monarquia constitucional, eleições, liberdade de imprensa, respeito pelo estatuto da mulher... Três dos seus chefes permanecem na prisão desde Março de 2004. Os Saud/wahhabitas não toleram qualquer partilha dos seus poderes absolutos.

Não obstante, o «embrião da democracia saudita» só poderá desenvolver-se se sujeito a uma constante pressão. É preciso que a Arábia Saudita se junte aos Estados islâmicos - fora da esfera árabe - que praticam a democracia em graus diversos. Da Turquia à Indonésia, os muçulmanos elegem os seus representantes e respeitam o veredicto das urnas. Assistimos mesmo à designação de mulheres para o cargo de primeiro-ministro na Turquia, no Paquistão e até no Bangladesh, onde duas mulheres exercem um quase monopólio da vida política: uma chefia o Governo e outra lidera a oposição !

A Arábia deveria libertar-se do constrangimento social imposto por uma aliança retrógrada entre os «valores» de uma sociedade medieval e os ditados pela concepção wahhabita do Islão. As mulheres estão proibidas de conduzir automóveis; o convívio entre sexos está interdito no trabalho, nos lugares públicos e até mesmo nos elevadores.

O progresso e a modernidade na Arábia Saudita poderão ser medidos em função das liberdades concedidas às mulheres. Também são função da igualdade de oportunidades conseguida entre a casta reinante e os «súbditos».

Apesar de uma consulta eleitoral pouco prometedora, estamos conscientes de que o caminho a percorrer para atingir a modernidade é ainda longo. Mas as pressões exteriores continuam a ser indispensáveis para fazer avançar a causa da liberdade no país da intolerância.

Antoine Basbous, Fundador e director do Observatório dos Países Árabes

OBSERVATOIRE DES PAYS ARABES
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